Faziam aos domingos à tarde como
que uma espécie de calafetagem do coração. Faziam-no com uma chávena de chá
quente, uma torrada com pouca manteiga, que sempre partilhavam, e com as mãos
que escapavam à gordura juravam amor eterno, entrelaçando os dedos até que a
tarde se cansasse deles. Fizeram isto todos os domingos, até ao momento em que
o tempo lembrou ao homem que o tempo da mulher tinha chegado ao fim. O tempo
tinha dispensado o domingo de ser tempo de aconchegar o coração, que ao que
parece ao domingo confunde-se muitas vezes o amor verdadeiro com o doce de um
pacote inteiro de açúcar dentro de uma chávena de chá. A morte dela tirou-lhe o
coração e a vontade de beber chá e lamenta que só não lhe tenha tirado também a
sorte de viver.
Continua a viver aos domingos, continua a amá-la também e não
só aos domingos, pedindo uma chávena de chá quente, duas xícaras e uma torrada.
Não bebe nem come nada, que os domingos como que lhe tiraram o paladar.
Passados vinte minutos sai do café que o traiu, deixando tudo intacto, que
vinte minutos são mais que suficientes para amar uma boa recordação, mesmo não
lhe entrelaçando os dedos até anoitecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário