quinta-feira, 20 de abril de 2017

todos sabem mas ninguém viu

Nem todos os crimes, só por serem crimes, merecem o castigo de crime, à bala de seiscentas verdascadas de vime nas costas. 
Sabe-se que ele matou, sabe-se que matou por prazer e para estar bem com a sua consciência e até com deus. Sabe-se que não foi meigo, que não lhes tirou a vida só para deixarem de viver, que não lhes tirou a vida para deixarem de ser, aquele estorvo que os viu nascer. Sabe-se que ele lhes infligiu dor, uma espécie de dor tão forte que o cérebro pede à morte que o conforte. Foram três intermináveis dias de dor. A meio da tarde do segundo dia, que até estava soalheira e bonita, eles pediram clemência ao homem, que tivesse a decência e os matasse depressa. 
Sabe-se que ele continuou, que a dor não parou até o sol querer parar aquela herança, que a vida lhe deu em forma de vingança. Sabe-se quem matou e quem morreu. Sabe-se que eles morreram de tanta dor. Sabe deus como aqueles marginais lhe tinham deixado o corpo da neta ao destino violado de uma valeta. Todos sabem, mas ninguém viu.

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