terça-feira, 28 de março de 2017

de marcha-atrás a mudar passados

Agora é mais difícil convencê-lo que, por mais depressa que ande em marcha-atrás, nunca chegará àquele pedaço de passado que não se apaga por se ter enganado. Foi nessa noite maldita que o volante virou demais, e à farta colheita ceifou o que ainda verde o amor lhe deixou, que é difícil acreditar que no mesmo caminho ainda possa haver uma alma que se perde. Pena que as árvores mais altas aqui não vingaram, para taparem o céu azul e o bom tempo que vem de lá, como facas afiadas no peito desse homem que não tem culpa que a escolha reclame o defeito. Soubesse ele desta escuridão e tinha fingido um finge-que-vira-mas-não-vira, um destes fingimentos que o livrasse da ira, dos seus próprios arrependimentos. Ele que engate a primeira e acelere sem derrapar, que à frente a curva é apertada e sem demora vira-que-vira para o mesmo sítio de voltar a escolher os caminhos de outrora, sem saber dos buracos que podem ter agora.    

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