quinta-feira, 23 de março de 2017

quando o vinho se eleva acima de deus

a esperança morre como morrem aqueles peixes dourados do aquário que está por cima da estante de livros. À tona de água, de barriga para cima, a boiar do finar da vida ou do rebentar de tanto comer dela. E depressa, que a pressa da esperança não dá bom viver a ninguém. É quando a esperança se fina por completo, que o vinho se eleva acima de deus, porque é de pé que o vinho se entorna e só depois se verga o corpo com o peso bruto do fruto da imaginação.  Com deus, no princípio vergam logo os ossos à vassalagem, dobram os joelhos à passagem de quem nunca viu o que existiu para além do tal fruto da criação. De pé, é melhor que a fé venha mesmo do vinho, que aos velhos custa a dobrar os joelhos e do vinho não custa nada dizer a deus, ou à esperança ou a qualquer outra coisa que teima em existir para lá do que a vista consegue ver. 

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