Gosto
de chegar ao café da Beatriz e dizer apenas – o habitual – ou nem sequer dizer
nada e dali a nada ter uma meia de leite directa e um pão com manteiga na mesa
do canto ao pé da máquina do tabaco.
É fazer parte daquele café e da vida
daquelas pessoas. Descodificar os trejeitos e fazer deles o nosso próprio
diálogo. É saber que o Henrique, o filho da Beatriz, fez ontem o teste de
matemática e que provavelmente daqui a uns anos estará ali a servir à mesa. É
saber de antemão que a Beatriz se chateou com o Justino, apenas pela forma como
o pão vem barrado com pouca manteiga.
Sou e sinto-me o cliente habitual.
Aquele que acha que tem privilégios e que é constantemente gratificado com os
produtos mais frescos. Aquele que no Natal não paga o café, e em tempos de
bonança, tem direito a um bolo-rei. Aquele a quem guardam o jornal desportivo,
intacto, para não estar amarrotado na primeira leitura do dia.
Eu também sou aquele café.
Estou farto de meia de leite e
enoja-me o pão barrado de manteiga, mas não tenho coragem de inverter a minha
própria essência. Esta maldita essência monótona de ser habitual.
Ia toda deleitada e de cabeça inclinada a ler a doçura deste post, quase comovida e a apetecer-me dizer " e eu pertenço a este blogue" e, no fim, com o desfecho todo ao contrário, dei uma inesperada gargalhada. Mesmo bom, Nuno. :-)
ResponderEliminarVivo assim com a rotina. Por vezes já não posso com ela, mas continuo a vivê-la, como se fosse sempre a primeira vez.
EliminarAqui no blogue servimos muitas vezes croissant misto e o meu filho é bom a matemática, pelo que, será sempre um sítio recomendável.
Obrigado pelo comentário