Escrevo a uma mão. Como se de um
recital de um meio pianista se tratasse. A outra mão, a menos importante das
mãos, segura dez réis de gente, que dorme profundamente. A mão menos importante,
segura naquilo que me faz viver e envaidece-se por isso. Reclama importância
por dependermos dela. Reivindica cuidados futuros, ameaçando perder a força de
repente, caindo-me a vida e este aconchego de cinco quilos, que tranquilamente
me dá a paz de uma criança.
Enquanto se mantiver este impasse da
mão esquerda, seguro-a com a mão direita, não vá ela boicotar a força e deixar
cair o que mais importante há na vida. C o m a s d u a s m ã o s o c u p a d a
s , a p e n a s s e c o n s e g u e e s c r e v e r a e s p a ç o s c u r t o s
, e s p a ç a d o s d e i m a g i n a ç
ã o.
Acordaremos que em diante as tarefas
de segurar a faca, limpar o rabo e acenar quando for para dizer adeus, ficará
sempre a cargo da mão esquerda. Será ela também a espaçar as palavras e a
embalar os filhos.
Como não sei por quanto tempo durará
este acordo, aproveito o tempo para olhar, sentir respirar, ouvir chuchar e aconchegar
estes dez réis de gente, embalados por esta mão esquerda ávida de poder.
Sem comentários:
Enviar um comentário