quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ontem, gostava de ter apreciado os alperces da dona Julieta



Ainda não sei quando morrer. Por enquanto, vou descendo o monte até à vila, nesta estúpida incerteza de não saber.

É de noite e de noite não se deve morrer. É verão e no verão não se deve morrer. É quinta-feira e os sinos começaram a tocar, desolando-me o coração, como se morrer fosse para uma quinta-feira.

Estou sozinho e nunca se morre sozinho.

Na vila, os sinos calam-se para mim, como se cala o resto da vila e o resto de mim.

Morri, mesmo sem querer fazê-lo. E sabiam que eu não o queria de noite, de verão, e tampouco a uma quinta-feira.


Ontem gostava de ter passeado na vila, jogado às damas com o senhor Álvaro, apreciado os alperces da banca da dona Julieta e quem sabe, roubado um beijo à Júlia, que há tanto tempo o ando para fazer. Sei que ela me olha com desejo. Eu teria sido o seu primeiro homem. Para mim, ela seria o meu primeiro beijo. Nunca o fiz, porque sempre tive medo. 
Também sempre tive medo de morrer.

efrem miranda

6 comentários:

  1. Nunca devemos deixar de viver por causa do medo.

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  2. Ai, homem, o medo é o pior dos inimigos.
    Há quem não chegue a viver tal é o medo da morte.
    Morre-se todos os dias um bocadinho mas ao menos que valha a pena!

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  3. Aprendi que a vida deve ser celebrada,vivida,um dia de cada vez,mas como se fosse o ultimo.
    Beijinho

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  4. essa é a fórmula magica.

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