Quando agarrei o varão, ele gelou-me
as mãos e quis penetrar-me o gelo no coração como se desconfiasse que eu não
era digno para aquele deslize.
Deslizei rápido, acossado pelo
ensurdecer da sirene que palrava ao desespero dos outros.
Ainda vi a minha imagem refletida
no cromado do varão. Estava gélida como aliás deve ser uma imagem refletida da
coragem.
Entrei no camião tanque com a
pressa de quem sabe que os segundos desolam a esperança. Coube-me a janela. Não
gosto de me sentar à janela. À janela, os meus olhos são os primeiros a
derreter inolvidavelmente o choro das pessoas que perdem o tempo que demora a
vida. São vidros, e dos vidros apenas se podem esperar infundados reflexos e algumas
imagens de nós próprios.
As árvores ainda estavam de pé. Os homens
estavam vergados. Eu estive de pé durante várias horas, mas acabei por me
vergar. Algumas árvores acabaram também por cair junto de mim. Apaixonámo-nos e
fundimo-nos. Dos meus olhos planavam as fagulhas. Pedaços de cinza que trazem
pedaços de cada um. Pedaços de cada um que vão em toda a minha memória.
Grato pela vida dos outros. A
gratidão dos outros não me retorna a vida, nem a das árvores que se vergaram
comigo.
Quando me levantaram, desfiz-me
em cinza. As lágrimas não apagam mais fogo. Os meus pedaços de fuligem entram
na boca dos outros, causando um indelével sabor a…
efrem miranda